domingo, 13 de setembro de 2009

Um Impulso

Tudo estava terminado ali. Não havia mais volta, ou segundas intenções. Cada momento de suspense que se seguia deixava claro que suas intenções eram aquelas. Cada suspiro apertado mostrava claramente que tudo estava acabado. Cada mancha em sua roupa mostrava que agora já não havia mais vida naquele outro corpo; ela já havia sido levada por aquela faca suja na pia. Havia agora apenas a escuridão - um profundo vazio que lhe consumia por completo.

Suas emoções param de falar. Já não havia mais significado para ficar ali. Subiu na cadeira; agora é a hora de relaxar e partir. E com apenas um impulso ele o fez...

... Seus pés já não alcançam mais o chão.
Por Luis

segunda-feira, 4 de maio de 2009

Por Noites Inteiras

Por que você não pronuncia uma maldita palavra!? Por que vem até aqui toda maldita noite? Apenas fica aí, quieta e imóvel; me olhando com este olhar vazio. Você não sente nada? Não precisa desabafar, chorar, gritar? Sua presença tem um peso enorme... Me deprime, sabia? Eu sei que sabe. Tenho certeza... Nós somos parecidos. Carregamos os mesmos malditos sofrimentos. A diferença entre nós, é que eu me desespero... Acordo quando já é noite novamente, e então, recomeço a rotina, alimentando esta engrenagem infernal. Noites passadas em branco. Os copos a mais, os cigarros que não eram necessários, fileiras de pó, seringas, e tudo o mais de que eu não tenho vontade. O declínio. Depois eu odeio tudo, odeio todo mundo. Menos a tua presença. Amo a tua presença. E é aí que me vem o vazio... Mas e você? Sempre foi desse jeito; desde que eu me lembro.



Também se sente assim, não é? Aposto que por trás deste rosto delicadinho, você é feia e podre, e deve estar berrando... Tem uma vida de merda, não tem? O seu silêncio nojento não me engana. Você... Por que diabos, você continua calada!? Está esperando por alguma coisa? A gente sempre espera... Caso contrário, já teríamos apertado o gatilho, engolido todos os comprimidos da caixa; já teríamos nos atirado de bem alto ou pressionado a lâmina da navalha até o sangue jorrar... Mas a gente continua sempre esperando por alguma coisa; enquanto a rotina desgastante faz o trabalho, noite após noite. Até que finalmente, caímos da cadeira, babando, olhos virados... A imagem da decadência. A morte. Perda de tempo... Somos covardes!


Ainda não quer dizer nada?... Droga! Não consigo encarar a verdade. Você não diz nada, pois não pode dizer! Você nem sequer deve me ouvir! É apenas esta imagem perfeita e calma. Com esse ar neutro e olhos que brilham. Que só me procuram para me lembrar do quanto a minha vida é insignificante. Em todas as noites... Noites inteiras.



Você me deprime, sabia? Mas não posso negar que te amo... Fui-te inventando conforme de ti precisava; e agora que te tenho, vivo apenas para me dar conta da sua total inexistência.




Fim...

Por Sérgio...





sábado, 18 de abril de 2009

Em Obscuridade


Como sinto falta da luz. Alguém aqui viu a luz? Será que alguém conhece seus dons? Acho que a luz se extinguiu pra todos... Assim como está se extinguindo pra mim. E por mais que eu queira negar, eu sei que pouco a pouco ela está partindo, levando consigo sua materialidade e coexistência.



Mais uma vez, a teia da ignorância me fisga. Vejo de novo suas falhas, suas aberturas. E então o erro fatal esbarra em mim de novo, me fazendo entrar naquela sala empoeirada que a muito não entro. Como queria esquecer... Como queria iluminação para esquecer. E enquanto caminho suavemente para seu interior, meus pensamentos me lembram coisas que não queria lembrar, calando meu interior e deixando meus sentimentos me guiarem.


Novamente, sinto-me bem vindo ao mundo cinza; ele já fazia parte de minha jornada. E é nesse cômodo esquecido por Deus que lamento tudo o que vejo e sinto. Minha ignorância cobriu minha visão, obscureceu a luz. E assim eu a feri... E assim eu a afastei de mim. Não percebi que estava sendo forçado pelos impulsos caóticos da ilusão.


E na teia, fui tocado pela loucura, voltando assim a um estado que a muito não estive. E dentro desse quarto, tudo se tornou incerto e a clareza de minha visão passou a me enganar. Queria me enganar e me retirar do estado carnal para não presenciar aquilo... Para não sentir a dor que esse quarto causa. Mas eu não consegui... Será que eu estava sendo punido? De fato, esperava que sim.


Não queria mais entender que estava acontecendo – meu corpo sangrava. Queria ser corrompido e punido, pois na teia vi a maior das verdades. Era sublime e terrível. Multiforme, mas que podia ser definido com total clareza em minha mente. E diante dessas revelações, silencie-me e coloquei-me a observar; era tudo que podia fazer.



Corrompido pela ilusão, ali naquele maldito cômodo eu morri calado. Somente a observar com os olhos em obscuridade. Meu corpo inerte não mais se importava com as flagelações; era o necessário. Minha mente se nomeava errante e condenava meu espírito por meu pasado. Porém, de minha suplício subliminar, veio o perdão divino...


Nesse momento, me reconforto nos cantos de minha própria mente. Pois dentro deste quarto, agora coberto por um tapete vermelho coagulado, eu sinto o calor de outrora me invadir, aquecendo assim meu corpo; antes frio e levemente mórbido. E durante esses segundos de ascensão, eu consigo finalmente sentir a luz me invadir e iluminar meu ser, trazendo sua materialidade e coexistência à mim por mais uma vez.



Fim






Por Luis

domingo, 8 de fevereiro de 2009

Dueto Calado


Olhou uma vez, olhou duas e olhou mais algumas, com toda
atenção que lhe era possível naquele momento de choque.
Parecia não acreditar na cena que estava a contemplar e, no
fundo, nem sequer sabia do porquê de estar ali; apenas sabia
que estava, que contemplava.
A vida se esvaindo é algo tão impressionante, tão...
profundo!
Sem direito a últimas palavras, nem os conseguintes últimos
suspiros, nem nada... Apenas o silêncio, o silêncio e a
solidão, em seu dueto calado que, de denso, era quase
tangível... E perturbador, é claro.



Ali não havia nenhuma razão, não havia nenhuma liberdade.
Emoções assumiram o controle e, então, o que havia ali era
puramente ódio e claustrofobia asfixiante. Era como se as
chamas geladas de todos os infernos ascendessem na mente,
esbanjando sutilezas jamais vistas por aqueles olhos. Olhos
esbugalhados e fixados naquele ponto, onde o diabo fazia sua
festa, com toda a sua horda de demônios regentes de todos os
pecados. Era ao mesmo tempo, cruel, desumano e belo...



A vida se foi sem muita demora, assim restando somente a
carcaça fria, suja e pálida. Junta a mais sujeira; estirada
no chão que refletia o rosto daquele homem... Também pálido
e sujo, de pé, tremendo de desespero, que por sua vez, não
fez cerimônia. Num ato quase espontâneo deu conta de sujar
também a parede logo atrás...



Segundos depois, ali não existia mais vida, não existia mais
ódio, não existia mais desespero...



Ali restara somente o vazio.





Fim...


Por Sérgio.


quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

Irreal

Silenciei-me ao avistá-la entrando pela porta ao fundo. Fios lampejantes, inconstantes, distraíram o meu olhar. Aquele fulgor impecável, tal como o ouro. Dona de uma beleza incomum, parecia-me deslocada da realidade ao mesmo tempo que parecia-me tão concreta, tangível... Indescritível, embora continuasse tentando...

Ela se movia com tanta leveza, a suavidade de seus passos, suas articulações, o balançar dos dourados fios, tudo era executado tão majestosamente... E acompanhei-a com os olhos até onde ela se sentou, encobriu o rosto com as mãos pálidas, trêmulas, e num suspiro colocou-se a chorar... Eu nada podia dizer sobre ela, apenas que aquela sua tristeza, desespero, e sei lá mais o quê... Aos poucos me contagiava, e aos poucos inspirava-me imenso fascínio...

Não hesitei em me aproximar... E constatei que sua beleza, era ainda maior e mais estonteante de perto. Ela tinha luz própria. Era quente e viva... Tentei controlar-me, mas meu anseio em tocá-la, devorou minha capacidade de controle.E foi então que não a senti... Vi meus dedos penetrarem a sua pele, alva como neve, sem nenhuma consistência. Era como se não existisse. Eu não conseguia tocá-la...

Eu podia vê-la e tinha a sua presença. Podia ouvir os seus lamentos e choros. Eu sentia o seu calor. A sua luz me iluminava... Os seus sentimentos me contagiavam... E eu sofro... Sofro por desejar mais do que isso... Sofro pelo anseio em provar tua carne... Por desejar passar por tuas formas perfeitas... Tocar a tua pele... Por isso eu sofro.

Sofro pois nem sequer coexistimos. Fazemos parte de mundos paralelos. E então, vejo-me obrigado a voltar a gritar. Devolto à minha eterna loucura... Loucura de várias outras que já estiveram por aqui, e se foram. Agora mais insanável do que antes por tê-la tão perto... Mas ao mesmo tempo, tão distante...


Fim...

Por Sérgio.

domingo, 11 de janeiro de 2009

Débito

Esforços... O que me diz dos esforços? Eles foram realmente úteis? Na realidade, vejo estes esforços como síndromes de penitência e vergonha que sinto sempre que perco controle. Sempre que algo contradiz a verdade dita.

Meu silêncio repercutiu no lugar enquanto eu captava cada passo seu. Uma criatura de tal magnitude entrou em minha realidade. Finalmente conseguimos nos juntar... Mas, eu começo a vegetar enquanto colho meus fragmentos; pedaços que os juízes me tiraram e lançaram sobre os sete cantos das dimensões terrestres. Eles ainda existem... Eles simplesmente querem viver!

Sinto-me agora como se tivéssemos transado a noite inteira. Ainda sinto suas mãos me pressionando enquanto destruo o muro que existia dentro de ti. Ah... Ainda sinto seu calor... Sinto seu ser perder a inocência enquanto diz em gemidos que me ama e pede de forma sutil que eu não vá embora.

Eles... Eles a levaram. Diga-me, eles a levaram? O fim dos tempos está chegando? O fim dos tempos chegou...? Onde...? Aonde meus esforços chegaram? Esforços... - acho que voltei a vegetar.

Oh Deus. Eu estou louco...? Acho que terei que me confessar. Eles ainda me seguem... Eles ainda a querem. E eu ainda penso sobre nossos mundos... Sobre nossas realidades. Tão distantes... Mas tão juntas que podemos até mesmo nos tocar.

Mas agora, você se foi. Eles realmente te levaram...? Será que eles lhe trarão de volta? – acho que estou vegetando de novo.

Fim.

Por Luis.

quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

Caos Sentimental

... Até que finalmente vem a luz; ofuscante. Libertando-me da teia e me mostrando a verdade. Brilhante... Segundos iluminados me mostram coisas alternativas. Outras galáxias... Outras dimensões. Mas isso não é suficiente. Não enquanto eu permanecer imóvel. Colhendo apenas restos de um longo e farto plantio.


E então vem o ódio; frio. E nele eu imagino coisas horríveis e, inevitavelmente, eu também faço algumas dessas coisas. E com toda essa frieza e crueldade em meu ser, eu ainda me sinto vazio... Incompleto. E nesse poço de ferrugem, eu fico imperceptível... Avançando por muitas luas sem partir, enquanto os outros se vão... Enquanto tudo e todos se apagam sem nem mostrarem sua luz... Sem nem se mostrarem.


E então vem a loucura; caótica e instável. E nela eu grito com a voz insana, espalhando, assim, um pouco da instabilidade que há em mim. E também infectar a ordem com o caos e destruir os comandos mundiais. Mas, mesmo com isso, eu continuo imperceptível... Continuo no vácuo da película.


E então vem a tristeza; cinzenta. E tudo para por um segundo, me fazendo ver de novo a verdade. E, com os olhos da insanidade, eu percebo a chave do Todo. E com esta chave eu destranco a caixa maldita e mergulho em seus segredos.


E então vem a utopia; hipnotizante. E nela eu percorro até os primórdios dos tempos, desde a criação até a destruição. Mas, mesmo em estado de transe, eu me confundo com tais revelações. E nesses vai e vem de pensamentos eu percebo o vazio... Um vazio que sempre tive.


E então, vem o paradoxo; multiforme. E nele tudo se contradiz e a verdade se confunde na teia. E em meio esse caos sentimental, o vazio me corrompe e a imperceptibilidade me destrói, me deixando assim... Inexistente e imaterial. Percorrendo no todo e coexistindo no nada...


... Até que finalmente vem a luz.


Fim.

Por Luis.