Ela se movia com tanta leveza, a suavidade de seus passos, suas articulações, o balançar dos dourados fios, tudo era executado tão majestosamente... E acompanhei-a com os olhos até onde ela se sentou, encobriu o rosto com as mãos pálidas, trêmulas, e num suspiro colocou-se a chorar... Eu nada podia dizer sobre ela, apenas que aquela sua tristeza, desespero, e sei lá mais o quê... Aos poucos me contagiava, e aos poucos inspirava-me imenso fascínio...
Não hesitei em me aproximar... E constatei que sua beleza, era ainda maior e mais estonteante de perto. Ela tinha luz própria. Era quente e viva... Tentei controlar-me, mas meu anseio em tocá-la, devorou minha capacidade de controle.E foi então que não a senti... Vi meus dedos penetrarem a sua pele, alva como neve, sem nenhuma consistência. Era como se não existisse. Eu não conseguia tocá-la...
Eu podia vê-la e tinha a sua presença. Podia ouvir os seus lamentos e choros. Eu sentia o seu calor. A sua luz me iluminava... Os seus sentimentos me contagiavam... E eu sofro... Sofro por desejar mais do que isso... Sofro pelo anseio em provar tua carne... Por desejar passar por tuas formas perfeitas... Tocar a tua pele... Por isso eu sofro.
Sofro pois nem sequer coexistimos. Fazemos parte de mundos paralelos. E então, vejo-me obrigado a voltar a gritar. Devolto à minha eterna loucura... Loucura de várias outras que já estiveram por aqui, e se foram. Agora mais insanável do que antes por tê-la tão perto... Mas ao mesmo tempo, tão distante...
Fim...