segunda-feira, 4 de maio de 2009

Por Noites Inteiras

Por que você não pronuncia uma maldita palavra!? Por que vem até aqui toda maldita noite? Apenas fica aí, quieta e imóvel; me olhando com este olhar vazio. Você não sente nada? Não precisa desabafar, chorar, gritar? Sua presença tem um peso enorme... Me deprime, sabia? Eu sei que sabe. Tenho certeza... Nós somos parecidos. Carregamos os mesmos malditos sofrimentos. A diferença entre nós, é que eu me desespero... Acordo quando já é noite novamente, e então, recomeço a rotina, alimentando esta engrenagem infernal. Noites passadas em branco. Os copos a mais, os cigarros que não eram necessários, fileiras de pó, seringas, e tudo o mais de que eu não tenho vontade. O declínio. Depois eu odeio tudo, odeio todo mundo. Menos a tua presença. Amo a tua presença. E é aí que me vem o vazio... Mas e você? Sempre foi desse jeito; desde que eu me lembro.



Também se sente assim, não é? Aposto que por trás deste rosto delicadinho, você é feia e podre, e deve estar berrando... Tem uma vida de merda, não tem? O seu silêncio nojento não me engana. Você... Por que diabos, você continua calada!? Está esperando por alguma coisa? A gente sempre espera... Caso contrário, já teríamos apertado o gatilho, engolido todos os comprimidos da caixa; já teríamos nos atirado de bem alto ou pressionado a lâmina da navalha até o sangue jorrar... Mas a gente continua sempre esperando por alguma coisa; enquanto a rotina desgastante faz o trabalho, noite após noite. Até que finalmente, caímos da cadeira, babando, olhos virados... A imagem da decadência. A morte. Perda de tempo... Somos covardes!


Ainda não quer dizer nada?... Droga! Não consigo encarar a verdade. Você não diz nada, pois não pode dizer! Você nem sequer deve me ouvir! É apenas esta imagem perfeita e calma. Com esse ar neutro e olhos que brilham. Que só me procuram para me lembrar do quanto a minha vida é insignificante. Em todas as noites... Noites inteiras.



Você me deprime, sabia? Mas não posso negar que te amo... Fui-te inventando conforme de ti precisava; e agora que te tenho, vivo apenas para me dar conta da sua total inexistência.




Fim...

Por Sérgio...





5 comentários:

  1. Belíssimo texto! Profundo,e bem obscuro. :]

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  2. Bom, acho que já estava passando da hora de eu comentar. rs

    Bom... É, na minha opinião, mais uma ótima obra, amigo.

    Quando o leio, vejo claramente uma decadência vinda do narrador, evidênciada por vários fatores colocados no conto. Vejo também que essa decadência vem por cauda dela. Algo que ela precisava mas apenas o destriu mais; apenas ajudou em seu declínio.

    Bom, é isso. =D

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