domingo, 8 de fevereiro de 2009

Dueto Calado


Olhou uma vez, olhou duas e olhou mais algumas, com toda
atenção que lhe era possível naquele momento de choque.
Parecia não acreditar na cena que estava a contemplar e, no
fundo, nem sequer sabia do porquê de estar ali; apenas sabia
que estava, que contemplava.
A vida se esvaindo é algo tão impressionante, tão...
profundo!
Sem direito a últimas palavras, nem os conseguintes últimos
suspiros, nem nada... Apenas o silêncio, o silêncio e a
solidão, em seu dueto calado que, de denso, era quase
tangível... E perturbador, é claro.



Ali não havia nenhuma razão, não havia nenhuma liberdade.
Emoções assumiram o controle e, então, o que havia ali era
puramente ódio e claustrofobia asfixiante. Era como se as
chamas geladas de todos os infernos ascendessem na mente,
esbanjando sutilezas jamais vistas por aqueles olhos. Olhos
esbugalhados e fixados naquele ponto, onde o diabo fazia sua
festa, com toda a sua horda de demônios regentes de todos os
pecados. Era ao mesmo tempo, cruel, desumano e belo...



A vida se foi sem muita demora, assim restando somente a
carcaça fria, suja e pálida. Junta a mais sujeira; estirada
no chão que refletia o rosto daquele homem... Também pálido
e sujo, de pé, tremendo de desespero, que por sua vez, não
fez cerimônia. Num ato quase espontâneo deu conta de sujar
também a parede logo atrás...



Segundos depois, ali não existia mais vida, não existia mais
ódio, não existia mais desespero...



Ali restara somente o vazio.





Fim...


Por Sérgio.