quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

Irreal

Silenciei-me ao avistá-la entrando pela porta ao fundo. Fios lampejantes, inconstantes, distraíram o meu olhar. Aquele fulgor impecável, tal como o ouro. Dona de uma beleza incomum, parecia-me deslocada da realidade ao mesmo tempo que parecia-me tão concreta, tangível... Indescritível, embora continuasse tentando...

Ela se movia com tanta leveza, a suavidade de seus passos, suas articulações, o balançar dos dourados fios, tudo era executado tão majestosamente... E acompanhei-a com os olhos até onde ela se sentou, encobriu o rosto com as mãos pálidas, trêmulas, e num suspiro colocou-se a chorar... Eu nada podia dizer sobre ela, apenas que aquela sua tristeza, desespero, e sei lá mais o quê... Aos poucos me contagiava, e aos poucos inspirava-me imenso fascínio...

Não hesitei em me aproximar... E constatei que sua beleza, era ainda maior e mais estonteante de perto. Ela tinha luz própria. Era quente e viva... Tentei controlar-me, mas meu anseio em tocá-la, devorou minha capacidade de controle.E foi então que não a senti... Vi meus dedos penetrarem a sua pele, alva como neve, sem nenhuma consistência. Era como se não existisse. Eu não conseguia tocá-la...

Eu podia vê-la e tinha a sua presença. Podia ouvir os seus lamentos e choros. Eu sentia o seu calor. A sua luz me iluminava... Os seus sentimentos me contagiavam... E eu sofro... Sofro por desejar mais do que isso... Sofro pelo anseio em provar tua carne... Por desejar passar por tuas formas perfeitas... Tocar a tua pele... Por isso eu sofro.

Sofro pois nem sequer coexistimos. Fazemos parte de mundos paralelos. E então, vejo-me obrigado a voltar a gritar. Devolto à minha eterna loucura... Loucura de várias outras que já estiveram por aqui, e se foram. Agora mais insanável do que antes por tê-la tão perto... Mas ao mesmo tempo, tão distante...


Fim...

Por Sérgio.

domingo, 11 de janeiro de 2009

Débito

Esforços... O que me diz dos esforços? Eles foram realmente úteis? Na realidade, vejo estes esforços como síndromes de penitência e vergonha que sinto sempre que perco controle. Sempre que algo contradiz a verdade dita.

Meu silêncio repercutiu no lugar enquanto eu captava cada passo seu. Uma criatura de tal magnitude entrou em minha realidade. Finalmente conseguimos nos juntar... Mas, eu começo a vegetar enquanto colho meus fragmentos; pedaços que os juízes me tiraram e lançaram sobre os sete cantos das dimensões terrestres. Eles ainda existem... Eles simplesmente querem viver!

Sinto-me agora como se tivéssemos transado a noite inteira. Ainda sinto suas mãos me pressionando enquanto destruo o muro que existia dentro de ti. Ah... Ainda sinto seu calor... Sinto seu ser perder a inocência enquanto diz em gemidos que me ama e pede de forma sutil que eu não vá embora.

Eles... Eles a levaram. Diga-me, eles a levaram? O fim dos tempos está chegando? O fim dos tempos chegou...? Onde...? Aonde meus esforços chegaram? Esforços... - acho que voltei a vegetar.

Oh Deus. Eu estou louco...? Acho que terei que me confessar. Eles ainda me seguem... Eles ainda a querem. E eu ainda penso sobre nossos mundos... Sobre nossas realidades. Tão distantes... Mas tão juntas que podemos até mesmo nos tocar.

Mas agora, você se foi. Eles realmente te levaram...? Será que eles lhe trarão de volta? – acho que estou vegetando de novo.

Fim.

Por Luis.